SANSHIN
Sanshin (dialeto de Okinawa) ou shamisen (japonês) é um instrumento de 3 cordas típico okinawano.
Nestes últimos tempos, fiquei determinada a aprender a tocar pelo menos uma música okinawana no sanshin.
Para atingir esse objetivo, tomei o instrumento emprestado do meu tio que acho que não estava usando.
Esse sanshin era do meu avô materno que tocava muito bem.
O som característico é absorvido em minha mente como um flashback de recordações do tempo em que ele estava vivo e se apresentava em todas as festas de família e da comunidade.
A avó tocava Kotô para acompanhar a banda. Nem cogitei em aprender Kotô por inúmeras razões (é muito grande, tem muitas cordas para afinar, é difícil de transportar e não é instrumento solo).
Ninguém dizia que Kaguiádefu era a música de abertura de festas mas sabíamos porque todas as festas começavam com essa música e quando tocava o Katiashii (música de rítmo rápido) sabíamos também que a festa estava chegando ao final, hora em que todos dançavam juntos no meio do salão.
Quando tocava o Katiashii, o meu avô ficava com o rosto vermelho e suado como um guitarrista de rock na hora da “ferveção”.
Lembro de um dia ter reparado que a veia no seu pescoço saltava de tanto esforço pra tocar o Katiashii.
Na internet, descobri que existem 3 tipos de afinação e acho que o tipo que o meu avô usava era a afinação regular ou Honchoshi (sol dó sol) e tem também a afinação alta e a baixa.
No www.youtube.com há vídeos de Asadoya Yunta que é a música que estou tentando aprender a tocar. Se treinar bastante, acho que chego lá.
Letra de Asadoya Yunta em romaji
Sa kimi wa nonaka no
Ibara no hanaka saa yui yui
Kurete kaereba yarehoni hiki tomeru
Mataharinu chindara kanushama yo
Sa ureshi hazukashi
Ukina wo tatete saa yui yui
Nushi wa shirayuri yarehoni mama naranu
Mataharinu chindara kanushama yo
Sa tagusa torunara
Izayoi tsukiyo saa yui yui
Futaride kiganemo yarehoni mizu irazu
Mataharinu chindara kanushama yo
Sa somete aguemasho
Konji no kosode saa yui yui
Kakete ocurre yo nasake no tasuki
Mataharinu chindara kanushama yo
Sa Okinawa yoitoko
Ichido wa mensore saa yui yui
Haru natsu aki fuyu midori no shima yo
Mataharinu chindara kanushama yo
quarta-feira, 10 de março de 2010
Filmes sobre o Japão
IMAGENS DA GUERRA (escrito em 29/07/2007)
Nestes dias de frio intenso em Curitiba, não há outra opção, alugo filmes para assistir em família. Vi Cartas de Iwojima e A Conquista da Honra. Os dois filmes são baseados em fatos reais, de cartas escritas pelo general japonês e não enviadas de Iwojima, por um lado, e do livro escrito pelo filho do enfermeiro americano que lutou em Iwojima, por outro.
Os dois filmes tratam do mesmo tema, a guerra entre japoneses e americanos em Iwojima. De qual filme eu mais gostei? Não sei(sempre em cima do muro), os filmes são diferentes mas ao mesmo tempo se identificam também pela falta de caráter em alguns personagens.
O filme japonês mostra a sensibilidade do general em motivar seus soldados mas o que ressalta é a necessidade de alguns militares em cometer suicídio coletivo como saída para não perder a honra já que a guerra estava praticamente perdida.
No filme americano, sobressai o sentimento deslocado do índio, de não se sentir bem por constatar que a realidade é outra em contra-ponto com o marketing “patriótico” para angariar fundos para continuar a guerra.
Nos finais dos filmes, aparecem os personagens reais e muitas fotos da guerra. Daí, lembrei-me de minha avó paterna, a Oba. Nos dias de chuva no sítio, quando não havia muita coisa a fazer, ficávamos conversando, ela falava em japonês e usava alguns termos no dialeto de Okinawa. Eu tentava responder em japonês.
Ela contava sobre a infância e sobre a segunda guerra em Okinawa. Por morarem na beira da praia, na época da invasão dos soldados americanos, fugiram para a floresta (yama no naka) por quase um ano.
Sobreviveram, sem higiene e comendo batatas. Ela contou-nos que todos ficaram cheio de piolhos e que as mulheres não menstruavam. Às vezes, de noite, voltavam à aldeia(buracu) para buscar alguma coisa em casa mesmo arriscando a possibilidade de encontrar soldados.
E, certa vez ela teve um susto porque deu de cara com os americanos. Ela só lembrava que fechou os olhos com força, o fígado(timu) disparou pela boca (eu lembro que ela falou em fígado), fraquejou o corpo, ajoelhou-se com as duas mãos unidas em oração e depois de alguns instantes que pareceram uma eternidade, os soldados foram embora.
No final da guerra, ela e todos os familiares provaram pela primeira vez na vida, chocolates em barra. Imagine, após viver em condições sub-humanas, ingerindo somente batatas e raízes do mato, que sensação deliciosa deveria ser, provar um pedaço de chocolate. Por isso, tenho uma boa razão para gostar de chocolate: prestar uma homenagem à Oba e também a meu pai (está vivo e bem de saúde).
A Obá contou também que certa vez, um soldado americano tirou fotos dela e dos familiares. Pois então, os filmes fizeram-me pensar, quem tirou as suas fotos? Talvez, meu pai que estava com cerca de 11 anos à época, estaria em alguma foto também. Nunca descobrirei.
Nestes dias de frio intenso em Curitiba, não há outra opção, alugo filmes para assistir em família. Vi Cartas de Iwojima e A Conquista da Honra. Os dois filmes são baseados em fatos reais, de cartas escritas pelo general japonês e não enviadas de Iwojima, por um lado, e do livro escrito pelo filho do enfermeiro americano que lutou em Iwojima, por outro.
Os dois filmes tratam do mesmo tema, a guerra entre japoneses e americanos em Iwojima. De qual filme eu mais gostei? Não sei(sempre em cima do muro), os filmes são diferentes mas ao mesmo tempo se identificam também pela falta de caráter em alguns personagens.
O filme japonês mostra a sensibilidade do general em motivar seus soldados mas o que ressalta é a necessidade de alguns militares em cometer suicídio coletivo como saída para não perder a honra já que a guerra estava praticamente perdida.
No filme americano, sobressai o sentimento deslocado do índio, de não se sentir bem por constatar que a realidade é outra em contra-ponto com o marketing “patriótico” para angariar fundos para continuar a guerra.
Nos finais dos filmes, aparecem os personagens reais e muitas fotos da guerra. Daí, lembrei-me de minha avó paterna, a Oba. Nos dias de chuva no sítio, quando não havia muita coisa a fazer, ficávamos conversando, ela falava em japonês e usava alguns termos no dialeto de Okinawa. Eu tentava responder em japonês.
Ela contava sobre a infância e sobre a segunda guerra em Okinawa. Por morarem na beira da praia, na época da invasão dos soldados americanos, fugiram para a floresta (yama no naka) por quase um ano.
Sobreviveram, sem higiene e comendo batatas. Ela contou-nos que todos ficaram cheio de piolhos e que as mulheres não menstruavam. Às vezes, de noite, voltavam à aldeia(buracu) para buscar alguma coisa em casa mesmo arriscando a possibilidade de encontrar soldados.
E, certa vez ela teve um susto porque deu de cara com os americanos. Ela só lembrava que fechou os olhos com força, o fígado(timu) disparou pela boca (eu lembro que ela falou em fígado), fraquejou o corpo, ajoelhou-se com as duas mãos unidas em oração e depois de alguns instantes que pareceram uma eternidade, os soldados foram embora.
No final da guerra, ela e todos os familiares provaram pela primeira vez na vida, chocolates em barra. Imagine, após viver em condições sub-humanas, ingerindo somente batatas e raízes do mato, que sensação deliciosa deveria ser, provar um pedaço de chocolate. Por isso, tenho uma boa razão para gostar de chocolate: prestar uma homenagem à Oba e também a meu pai (está vivo e bem de saúde).
A Obá contou também que certa vez, um soldado americano tirou fotos dela e dos familiares. Pois então, os filmes fizeram-me pensar, quem tirou as suas fotos? Talvez, meu pai que estava com cerca de 11 anos à época, estaria em alguma foto também. Nunca descobrirei.
Kandaba juushi - カンダバ〜ジュウシ〜
O meu geriatra disse pra evitar de comer o arroz japonês (Guin Mai) que eu adoro. E, orientou-me que aprendesse a comer arroz integral. Não foi fácil no começo, mas achei uma maneira de juntar a necessidade com o prazer.
Na minha infância, a minha avó (Obá) fazia kandaba juushi (カンダバ〜ジュウシ〜 prato de origem okinawana) que eu adorava. É um tipo de risoto oriental bem molhado que mistura folhas tenras de batata-doce, lascas do peixe Bonito seco (katsuo), arroz e molho de soja shoyu. Eu associo o prato com dias chuvosos no sítio porque quando chovia ninguém ía para a roça e ficar em casa é “dar um tempo”, fazer as coisas com menos pressa e também comer porque comer é bom demais. Quem lembra de onde veio o nome bolinho de chuva?
Daí comecei a fazer o meu kandaba juushi que é o seguinte: arroz integral na panela de pressão com bastante água, hondashi (envelope de sabor de peixe), muito wakame (alga em pedacinhos), lasquinhas do peixe Bonito seco e deixar cozinhar. O molho de soja eu uso na hora de comer. Não dá pra usar ohashi (pauzinhos) para saboreá-lo.
Na minha infância, a minha avó (Obá) fazia kandaba juushi (カンダバ〜ジュウシ〜 prato de origem okinawana) que eu adorava. É um tipo de risoto oriental bem molhado que mistura folhas tenras de batata-doce, lascas do peixe Bonito seco (katsuo), arroz e molho de soja shoyu. Eu associo o prato com dias chuvosos no sítio porque quando chovia ninguém ía para a roça e ficar em casa é “dar um tempo”, fazer as coisas com menos pressa e também comer porque comer é bom demais. Quem lembra de onde veio o nome bolinho de chuva?
Daí comecei a fazer o meu kandaba juushi que é o seguinte: arroz integral na panela de pressão com bastante água, hondashi (envelope de sabor de peixe), muito wakame (alga em pedacinhos), lasquinhas do peixe Bonito seco e deixar cozinhar. O molho de soja eu uso na hora de comer. Não dá pra usar ohashi (pauzinhos) para saboreá-lo.
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